terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A IGREJA DOS NOSSOS SONHOS

A IGREJA DOS NOSSOS SONHOS


AS NOTAS ECLESIAIS PARA O AMANHÃ



Conta um pregador que um dos meus membros sempre o aborrecia tecendo inúmeras críticas sobre o seu estilo pastoral, sobre a maneira como os demais irmãos viviam e Evangelho e sobre a gestão eclesial em geral. Aquele assunto era um espinho para o pastor, mas este sempre exercia o amor misericordioso com aquele membro. Após tantas reclamações, o irmão decide procurar outra igreja para freqüentar. Visitou inúmeras e sua busca dura quase que um ano inteiro. Até que um dia ele chega muito feliz para o pastor e diz: “Finalmente encontrei a igreja dos meus sonhos. Encontrei a Igreja Perfeita”. Ao que o pastor responde: “Portanto, não vá para esta igreja”. Confuso e sem entender onde o pastor queria chegar, fez a previsível pergunta: “Por quê?”, no que o pastor amorosamente responde: “Porque o dia que você for para esta igreja, infelizmente ela deixará de ser perfeita”.

Esta estória nos conta de maneira lúdica uma verdade: Não existe igreja perfeita, uma vez que todas elas são formadas por seres humanos, portanto, a matéria-prima de sua constituição não é perfeita, ao contrário. Pessoas são falíveis, pecaminosas, limitadas racional, cultural e espiritualmente. O ser - humano está em constante transformação e aperfeiçoamento, o que significa que o “eu” de ontem era pior que o de hoje. Quando colocamos em um único espaço de convivência e troca de poder pessoas tão limitadas e diferentes, teremos necessariamente inúmeros problemas para serem administrados.

Natural que nas igrejas tenhamos inúmeras circunstâncias conflituosas para serem administradas no seu dia-a-dia, sendo que esta realidade não é nem recente e nem privilégio de alguma denominação ou corrente teológica. Já na igreja primitivo, podemos observar na bíblia inúmeros conflitos existentes entre as lideranças e entre líderes e igrejas.

Em suas cartas, o apóstolo Paulo, algumas vezes foi rígido em discursas em sua própria defesa. Igrejas que ele mesmo fez parte de sua construção e crescimento, as quais, noutras circunstâncias, levantaram dúvidas sobre a sua liderança espiritual.

Vejamos também o caso de Pedro e Paulo, dois apóstolos, homens cheios do Espírito Santo, cheios de poder e Graça. Homens que lideravam os cristãos e eram tidos por colunas, mas homens que se desentenderam e que, em certo ponto de sua caminhada de fé, optaram por caminhos opostos. Crise Institucional é o nome que damos a isto na atualidade.

A igreja dos meus sonhos é, portanto, por definição utópica, uma vez que sonho com uma igreja sem confusões, intrigas, desavenças e brigas de poder.

Não obstante minha igreja dos sonhos não seja exeqüível, não irei aqui privar-me de apontar características mais viáveis para o estabelecimento de uma comunidade de fé dentro daquilo que eu hoje considero mais próximo de um ideal cristão:

1 – ESTRUTURA SERVA

Nos dias atuais e para que uma instituição possa se desenvolver, não há como fugir da institucionalização, assim, um movimento metodista é hoje fantasioso e inviável, pois é necessário que este movimento torne-se CNPJ, convertendo-se em instituição. Uma vez institucionalizada, o segundo passo é o desenvolvimento de uma estrutura organizacional: cargos, instâncias, procedimentos, normas, regras, Cânones...

A estrutura, portanto, como conseqüência da institucionalização, é uma realidade necessária, entretanto, penso que a estrutura organizacional deve ser serva da Igreja e não senhora.

A estrutura deve ser o conjunto de normas que visam servir a Obra do Senhor e não limitá-la. Não obstante esta afirmação, o que temos observado é que a estrutura organizacional metodista tem se tornado pesada e muitas vezes até um obstáculo. Ou seja, a estrutura deixa de ser uma serva e passa a ser uma Senhora, aquela que manda e “dá as cartas”. Numa situação destas pouco espaço é reservado para o Espírito Santo e a instituição passa a ser a sua própria dona. Deus é colocado de lado, digamos, como um “Deus-honorário”, com título de “Criador Honoris Causa”, aquele que tudo começou, mas que já não tem muito espaço para agir dentro da instituição que ele ajudou a construir, pois já somos grandinhos e sabemos o que queremos: Temos uma bela coleção de normas e instruções.

Portanto, uma instituição onde a estrutura serva, é um bom começo para a igreja dos meus sonhos.

2 – ALEGRIA NO SERVIÇO

Tenho nestes anos todos observado que existe um grupo grande de crentes que têm pouca ou nenhuma alegria em viver. A vida é vivida como uma carga a ser levada pela alma. Nada tem graça. Nada pode. Nada é de Deus e não estou falando apenas dos nossos queridos fundamentalistas conservadores ou pentecostais. Falo de um grupo que se culpa por estar alegre e pensa que a vida sendo vivida com risos e até brincadeiras, estará sendo espiritualmente desperdiçada.

Conseqüentemente, tais indivíduos formam grupos e tais grupos formam igrejas e a igreja passa a ser um hospital onde ninguém recebe alta, nunca! Pessoas chegam doentes e ali permanecem se não doentes, ao menos com a cara daqueles. Jesus veio para os doentes, mas para curá-los e ao para perpetuá-los.

Neste contexto, para o grupo em questão, o serviço ao Senhor passa, necessariamente, a ser pesado, um fardo a ser carregado, debulhando-se em lágrimas. Quantas vezes eu já chorei! E penso que muitas outras vezes chorarei pela minha vida, pela de alguém querido ou pela Obra de Deus que não é realizada adequadamente. A vida nos faz sofrer. Ver uma igreja morrendo ou um trabalho sendo destruído nos faz sofrer. Lágrimas, companheira de todos. Entretanto, um ponto é o fato de o sofrimento estar presente, outra questão é o sofrimento ser parte integrante e indissolúvel da vida da igreja e da vida daqueles que fazem a Obra.

Já ouvi algumas vezes esposas de pastores, por exemplo, rezando a prece das coitadas: “Ah... Como a gente sofre por ser esposa de pastor... Coitadas de nós, pobres sofredoras...”. Quanto peso, quanta dor, quanto sofrimento... Neste caso, específico dos cônjuges de vocacionados, percebo que realmente haja um conflito maior e especial dentre elas, uma vez que são fruto de uma expectativa anacrônica por parte de alguns membros ou igrejas. Ou seja, participantes de um mundo no qual foi conquistada pelas mulheres a sua independência psicológica, financeira, intelectual e profissional, muitas vezes a igreja fantasia que a esposa do pastor deva ser uma co-pastora, ou seja, uma profissional que é quase tão responsável quanto ele pelo “sucesso” dos trabalhos e pela manutenção da ordem institucional, entretanto, que não faz jus a remuneração.

Se observarmos friamente as escrituras, perceberemos que as esposas dos líderes neo e vétero testamentários eram em sua maioria figuras absolutamente inexpressivas ou, no máximo, coadjuvantes. Muitas esposas sequer são citadas. Não é adequado impor sobre as esposas dos vocacionados expectativas que vão além de mãe, esposa, e profissional. Quem é o “contratado” da instituição, o vocacionado, é ele. Com entre grande parêntese, levanto uma possibilidade do por que para as esposas dos vocacionados, a Obra do Senhor possa, muitas vezes, converter-se num martírio.

Retornemos ao ponto focal. Muitas pessoas, crente, honradas, honestas e sinceras diante de Deus, não raro, sentem-se escravizadas pela instituição, pelo horário do culto e pela manutenção da igreja.

Ir à igreja não é um prazer, mas uma obrigação. São, muitas vezes, ou possuídas de pavor por não irem ao culto, ou possuídas de um sentimento de culpa que não deixa uma pessoa viver emocionalmente saudável.

Devo ir à igreja porque é bom louvar, mas não porque sou constrangido a isto. Obrigação, neste caso, é do pastor apenas.

Neste contexto, podemos perceber que muitos pastores não colaboram com a saúde mental e emocional de seus liderados, impondo sobre eles excessiva carga, exagerando na dose das exigências, e impondo a presença em vários trabalhos. Pastores que não tem mais nada o que fazer e pensam que as pessoas não trabalham, não possuem família, não merecem descanso e lazer, enfim, que não vivem.

O pastor deve ser o primeiro a estimular as famílias a tirarem pequenas férias ou fazerem pequenos passeios fez ou outra: um domingo de pic-nic numa cachoeira de uma fazenda de algum conhecido: Qual é o ser humano que não necessita disto? Mas domingo? Não, domingo não é o dia do descanso! Aliás, Deus equivocou-se quando instituiu um dia para o descanso, Ele errou, deveria ter sim instituído um dia para a igreja, assim como nós, sabiamente, temos feito com nossas ovelhas.

_ Que descanse no sábado!

_ Mas pastor, sábado é o dia que tenho para cuidar dos afazeres da casa, consertar o carro, pregar o varal, comprar roupas com meus filhos...

_ Azar, seu mundano.

Neste contexto, a obra torna-se muito pesada para muitos e alegria no serviço esvai-se. A obra vira obrigação. Meu sonho? Que os pastores passem a estimular as famílias e descansarem ao menos uma vez por mês, separando um domingo para lazer, descanso e comunhão, pois sucesso pastoral não é apenas uma igreja cheia, mas, sobretudo, uma igreja com pessoas emocionalmente saudáveis e que se alegram em estarem ali, cultuando espontaneamente.

3 – Sinceramente tenho dificuldades em destacar outro aspecto que possa ser tão importante em minha opinião. Creio que se houverem mudanças nos quesitos 1 e 2 acima, já teríamos um igreja satisfatoriamente desejável por mais pessoas. Mas, em cumprimento à exigência acadêmica, vamos aoterceiro aspecto.

Destaco, portanto, o óbvio, o que deveria ser um pré-requisito e não um sonho, mas que, infelizmente, é uma carência em algumas comunidades ou em algumas instâncias eclesiais:
O amor.

Deus é amor. Se Deus é amor, o amor é Deus. Se o amor é Deus, quando agimos sem amor, não estamos sobre a influência de Deus. Não há Deus no ódio. O amor é Deus. Uma igreja que age sem amor, age sem Deus. O amor deve estar acima da lei, alguém tem dúvida disto?

Mas porque compreendemos isto na teoria apenas, uma vez que, na prática, o amor não está acima da lei metodista: Os Cânones? Infelizmente, em nosso caso, maior é a lei do que o amor... Em algumas igrejas locais, os documentos nacionais, regionais ou locais são elevados à categoria de deuses e o amor é relegado a um papel coadjuvante, citado formalmente na oração inicial e final de cada reunião. Em nome de documentos muitas vezes somos implacáveis e cruéis.

Ah! O amor! Se não tiver amor, nada serei. Uma igreja onde a lei é maior que o amor está míope.

Que Deus nos dê discernimento.

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